A vida nos extremos - entrevista com Fabio Teixera e Alex Ribeiro
Os fotógrafos freelancer Fabio Teixera, de 38 anos, e Alex Ribeiro, de 36 anos, passaram o ano de 2015 atrás de histórias de gente vivendo em situações extremas no Rio de Janeiro. Realizaram mais de 20 entrevistas. Conversaram com meninos caçadores de rãs, limpadores de sepultura, caçadores de caranguejo, prostitutas. Estiveram no bairro do Caju, no Complexo do Alemão, em cemitérios, manguezais e na Vila Mimosa, uma das mais famosas áreas de prostituição do país. Este ano, diz dupla, vão reunir as histórias em um documentário e, as fotos feitas em paralelo, em uma exposição, ainda sem data definida. O nome de ambas será Sobreviver.
A ideia surgiu durante um café. Colegas de profissão, os dois se conheceram na cobertura de eventos que viraram notícia no Rio de Janeiro e logo perceberam que tinham interesses comuns para além do jornalismo. A ambição de ambos era também fazer documentários sobre questões sociais, como “Vivendo um outro olhar”, o filme que levou Teixeira, paulista de Piracicaba, a conhecer a atual noiva, Ingrid Cristina, e a se mudar para o Rio, em 2009 – Ingrid também é fotógrafa e aprece no documentário. Decidiram, então, unir esforços em um projeto comum.
Na entrevista a seguir, Teixeira e Ribeiro falam sobre suas carreiras, sobre o documentário e a foto campeã do prêmio Nikon deste ano, vencido por Teixeira.
Como surgiu o interesse de vocês por fotografia?
Ribeiro – Desde os 15 anos, quando ganhei uma câmera Mirage, eu ficava tão ansioso para ver os resultados da revelação, que ia sempre um dia antes do prometido. Daí descobri a paixão pela fotografia. Até hoje eu sou assim, quando vou revelar um filme. Aos 21 anos, comecei a vida profissional fazendo fotos sociais para amigos e vizinhos. Depois de dois anos, queria fazer fotojornalismo. Saí para a rua para montar um portfolio e não parei mais.
Teixeira – Começou em 1992, eu era assistente de casamentos. Fazia assistência de estúdio, publicidade, books, casamentos. Já gostava muito. Tinha uns 15 anos, na época. Fiquei oito anos nesse ramo. Depois comecei a fotografar para um jornal da minha cidade, no interior de São Paulo, o jornal A Tribuna de Piracicaba. Fiquei quatro anos. Depois comecei a fazer trabalhos pra agência Folhapress, já em 2004.
Mas você, Fabio, hoje mora no Rio de Janeiro, certo ?
Teixeira – Sim, moro aqui agora. Minha noiva é carioca. Mudei de Piracicaba para o Rio em 2008 ou 2009. Ganhamos um apartamento do meu sogro, depois de um ano de namoro. Mudei para morar com ela. Antes, eu morava em Piracicaba. Conheci ela através de um documentário que vi no YouTube, chamado “Vivendo um outro olhar”, do Guilherme Planel. Ela aparece no filme. Ficamos amigos, depois ela veio à minha cidade passar uns dias.
Vocês dois trabalham como freelas? Para quem?
Teixeira – Sim. Corbis, UNICEF, Cruz Vermelha, HBO, CNN, Reuters, AFP, Folha, BBC, ONU, Vice, Veja, Uol. E faço trabalhos documentais.
Ribeiro –The Sun, Dailymail e Estadão Conteúdo, como colaborador.
Como surgiu a ideia do documentário Sobreviver?
Ribeiro – Nos conhecemos cobrindo pautas. No convívio com o Fábio, descobri que tínhamos a mesma ideia de fazer fotos documentais. Então, eu e ele pensamos em trabalhar juntos em um projeto, pensamos em um assunto bem extremo, pessoas que vivem em condições extremas de sobrevivência. Daí saiu o documentário Sobreviver.
Teixeira – A ideia surgiu um dia em que estávamos tomando um café. Com o tema definido, eu e o Alex começamos a documentar as comunidades no Rio.
Quando começou e em que pé está o trabalho?
Teixeira – Começamos há um ano e três meses e estamos já na fase final. Em breve, começaremos a fase de edição. Entrevistamos umas 20 pessoas. Gente que vive no mangue, em favelas do Rio, como o Alemão, Pantanal e Caju. Esperamos lançar ainda em 2016. Essa é a ideia. Na primeira fase do projeto, éramos só eu e o Alex. Agora, na edição, Planel (Guillermo Planel) está nos ajudando. Fizemos vídeos e fotografia, e vamos fazer exposição também. A exposição não tem data, mas vai rolar. Faz parte do projeto.
Ribeiro – As fotos fazem parte do documentário. Será um filme de fotos e vídeos, contando histórias.
Como selecionaram os personagens? Por profissão?
Teixeira – Sim, profissões diferentes. Meninos caçadores de rãs, limpador de sepultura, caçadores de caranguejo, prostituição da Vila Mimosa.
Vocês já conheciam alguns? Como foi convencê-los a participar?
Teixeira – Não conhecíamos ninguém. Só na Mimosa, foram sete meses de trabalho.
Tem um trabalho de ganhar confiança, né?
Teixeira – Sim. Mas, a cada história, uma nova lição. Na Vila Mimosa, havia uma mulher que fazia oração antes de ir fazer os trabalhos dela, os programas.
Ribeiro – Cada espaço que fotografamos foi conquistado com muita conversa e tempo. Ninguém chega lá de uma hora para outra e começa a fotografar. Primeiro ficamos bem conhecidos no local. Depois ganhamos a confiança. Daí surgiram os primeiros clicks. É claro que nem todas aceitavam ser fotografadas. Mas as que permitiam, a agente não perdia tempo. A câmera sempre era direcionada para as meninas, mas eu ficava esperando passar clientes e curiosos, para dar aquela composição. Tinha clientes que não se importavam com as lentes. Aí já viu, era tudo que queríamos. Mas nem todos se agradavam com a nossa presença. A maioria não gostava.
Qual o momento que mais te marcou durante todo o processo?
Ribeiro – Na Vila Mimosa, uma garota de programa, cheirando cocaína em cima de uma lixeira.
Qual a principal dificuldade que enfrentaram? Por quê?
Ribeiro – A principal dificuldade é o tempo, pois eu trabalho, e nem sempre o tempo do Fábio é o meu tempo. Para ser documentarista, tem que ter muito tempo e muita paciência.
Fabio, você acaba de vencer um concurso, o "Eu sou o Natal", da Nikon. Pode nos contar um pouco os bastidores da foto que venceu?
Teixeira – Foi feita no final de 2015. Fui acompanhar um Papai Noel na favela de Ramos, que é um garoto de 14 ou 15 anos, morador da Maré. Uma academia doa brinquedos todos e ele ajuda a entregar. Fica perto da minha casa. Minha mulher acompanha a entrega dos presentes há cinco anos e, eu, há dois.
É seu primeiro prêmio?
Teixeira – É, sim.