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Pelas ruas polonesas - entrevista com Katarzyna Kubiak

A fotógrafa polonesa Katarzyna Kubiak, de 35 anos, iniciou na fotografar aos 30 anos, idade em que muita gente já se considera velha para aprender qualquer coisa. Funcionária pública em Varsóvia, começou tirando fotos com o celular no dia a dia e em viagens, até vencer com uma delas um concurso. A qualidade do arquivo gerada pelo aparelho, porém, impediu que participasse da exposição com os vencedores e a levou a comprar uma câmera melhor.

Com o equipamento novo, passou a levar a fotografia de rua mais a sério. Fez parte de dois coletivos (Streetical Collective e un-posed) e se inscreveu em outros concursos. Venceu ou recebeu menções honrosas em quatro: International Photography Awards (2015), Moscow International Photo Awards (2016), Leica Street Photo (2016) e Human DOC Proclub Camera (2016). Teve fotos publicadas no World Street Photography Book, no Debuts (2016), na Street Photography Magazine, no Street Photography in the World Book vol. 1, na Eye Photo Magazine e na PhotoVogue, da Vogue italiana. Em paralelo, aos poucos, foi ganhando visibilidade nas redes sociais - hoje, no Instagram, tem mais de 20 mil seguidores.

Este ano, esteve no Rio de Janeiro, para o Carnaval. Apesar do receio em relação à violência na cidade, e dos alertas dados por cariocas na rua já por aqui, fotografou a festa.

Na entrevista a seguir, Katarzyna fala sobre sua trajetória, a experiência de fotografar no Brasil, a diferença de fotografar na Polônia, as dificuldades de conciliar a vida pessoal com a fotografia, a fotografia de rua e seus planos para o futuro como fotógrafa documental.

Quando você começou a seu interesse pela fotografia?  

Comecei a me interessar por fotografia no final de 2014. Fotografava tudo que de alguma forma me interessava. Na época, eu tirava fotos com meu telefone celular. Por acaso, venci um concurso de fotografia, mas por causa da baixa qualidade da foto do meu celular, minha foto não pode fazer parte da exposição. Fui desclassificada e lamentei muito. Então, decidi comprar uma câmera.

O que mais atrai você na fotografia?

É difícil dizer, mas acho que é a beleza na fotografia. O tempo todo me surpreendo com algo em diferentes tipos de fotografia. 

Por que você escolheu a fotografia de rua?

Eu não posso dizer que escolhi a fotografia de rua porque foi um processo natural. É apenas a forma que funciona melhor para mim.

Quais os maiores desafios na fotografia de rua? E o que você mais gosta?

Os desafios na fotografia de rua são o que eu mais gosto. Eu acho que é uma curiosidade em relação ao que você pode ver e como vai mostrar isso. O maior desafio é tirar uma foto que vai interessar outras pessoas. Produzimos tantas fotos hoje em dia que é muito difícil fazer isso.

Onde você costuma fotografar com mais frequência?

Eu normalmente tiro fotos durante minhas viagens, principalmente porque eu não tenho tempo para fazer isso todos os dias. Trabalhar e cuidar da minha filha toma a maior parte do meu dia. Recentemente, principalmente nos finais de semana, e com cada vez mais frequência, saio para tirar fotos em minha cidade natal.

Como você escolhe os temas que vai fotografar?

Eu tiro a fotos principalmente em minhas viagens. Então esses são normalmente os lugares que eu quero ver no país que estou visitando.

Você poderia descrever sua rotina quando está fotografando?

Eu acho que trato isso agora mais como uma forma de caminhar e tirar fotos. Eu nunca sigo uma rotina. Eu simplesmente ando e tiro fotos de tudo que acho interessante.

Muitas cenas em suas fotos são engraçadas. Quais são suas principais influências, em fotografia e em outras áreas que você acha que influenciam a sua forma de ver?

Ao contrário do que você notou, eu gosto mais de fotos visualmente bonitas do que das engraçadas. Acho que é por causa do meu amor pelo cinema. Acho que explica muito sobre como eu fotografo.

Poderia citar outros fotógrafos de rua de sua geração que você admira, mas que não necessariamente referências para você?

Eu constantemente descubro novos excelentes fotógrafos e não seria possível eu nomear todas as pessoas que eu admiro aqui. Eu também não sou boa em lembrar nomes, eu tenho mais facilidade de identificá-los pelas fotos que tiram. 

Você integra dois coletivos de fotografia. Como isso ajuda você?

Eu não estou em nenhum coletivo no momento, mas não  estou excluindo a possibilidade. Há algum tempo atrás, eu senti que fazer parte dos coletivos não me trazia nada e decidi sair. No entanto, estou sempre aberta para novas ideias e, se decidir que vale a pena investir tempo em algo, ou em minhas atividades, certamente foi fazê-lo.

Eu vi que você esteve no Brasil. Acho que foi no Carnaval. Como foi sua experiência fotografando aqui?

Sim, eu estive no Brasil este ano. Eu queria realmente ver com os meus próprios olhos como o mundialmente famoso Carnaval se parece. Eu li sobre a situação perigosa no Rio de Janeiro desde o começo, mas eu não sabia o que esperar. Há países mais e menos seguros na Europa, mas não há comparação, de forma alguma. É algo completamente diferente. Na Europa, eu não preciso me preocupar com a câmera, posso andar com ela na mão e nada vai acontecer. A primeira vez que eu saí do hotel, as pessoas na rua vieram até mim e me disseram para esconder a câmera, porque de outra forma alguém iria roubá-la. Isso dificultou muito para mim tirar fotos, porque todos estavam prestando atenção em mim. A maior parte do tempo, provavelmente, imaginando como alguém poderia ser tão estúpido de andar com uma câmera à mostra. No Brasil, definitivamente você tem que ter os olhos na nuca e ter mais cuidado do que na Europa. Felizmente, não passei por nenhuma situação desagradável e lembro do Carnaval como uma excelente experiência. Claro, depois de alguns dias carregando minha câmera na mochila, que eu levo à minha frente. Eu tirava a câmera, fazia as fotos e escondia de volta. Foi o meu jeito de fotografar no Rio.  

Quão diferente foi de tirar fotos nas ruas da Polônia? Como as as pessoas normalmente reagem a fotógrafos de rua na Polônia?

Como eu escrevi, o Rio é muito perigoso. Mas, ao mesmo tempo, as pessoas era amigáveis e maravilhosas, muito abertas. Isso as torna diferentes das pessoas na Polônia, que são bastante fechadas e inacessíveis. Certamente, é algo que reflete nossa cultura e história. Somos mais desconfiados. E isso também tem efeito quando se tira fotos na Polônia. Frequentemente, as pessoas reclamam, prestam atenção e perguntam porque estou tirando fotos delas.     

Você está trabalhando em algum projeto atualmente?

Infelizmente, no momento não estou trabalhando em nenhum projeto, embora não me faltem ideias. Por razões pessoais, eu não tenho tido tempo para realizá-las. Em um futuro próximo, eu vou me focar em aprender coisas novas em fotografia. 

Que equipamento você usa?

Eu uso uma Fuji X100F

Como você vê a sua fotografia hoje? Como você se sente em relação ao seu trabalho? O que você gostaria de explorar mais? O que você pretende deixar para trás?

Eu tenho certeza de que minha abordagem na fotografia de rua mudou. Eu não levo mais tão a sério como levava antes. Ainda me divirto muito com e sou apaixonada pela prática, mas agora vou tentar me focar em fotografia documental e, como escrevi antes, quero aprender coisas novas. 

Que fotografias do seu portfólio você gosta mais?

Eu acho que realmente gosto de fotografias com multiplos planos, mas eu também presto muita atenção à estética. Eu gosto quando há várias coisas acontecendo e o enquadramento está próximo.

O que você sugeriria para quem está começando a tirar fotos?

De fato, você pode dizer que eu também estou no começo dessa jornada o tempo todo. Alguns anos de fotografia não me tornam uma especialista nessa áreas. No entanto, eu gostaria que as pessoas não prestassem tanta atenção às opiniões do outros. E, por outro lado, não tivessem ciúmes do sucesso dos outros.

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