Arte na fotografia - entrevista com Claudio Edinger
Nascido no Rio de Janeiro, em 1952, Claudio Edinger é dono de uma estética difícil de confundir. Suas imagens, já há muitos anos, trazem poucos elementos em foco. O restante permanece sem nitidez, como em tilt-shift. Muitas das imagens feitas assim são retratos, paisagens urbanas ou fotos aéreas de cidades como o Rio de Janeiro, São Paulo, Paris e Nova York, ou de regiões como a Toscana. Mudam a perspectiva de quem vê, apresentam um mundo em que grandes prédios, muitas vezes, parecem miniaturas.
Em sua longa e prolífica trajetória na fotografia, Edinger publicou fotos em mais de 56 veículos, no Brasil e no exterior, entre os quais Business Week, Conde Nast’s Traveler, Marie Claire, Elle, National Geographic, New York Times Magazine, Paris Match, Valor, Veja e The Washington Post. Prêmios e bolsas, foram ao menos 14. Exposições, foram mais de 80, desde 1975. Livros publicados, são quase 20, entre os quais os dedicados ao lendário Hotel Chelsea; a praia de Venice, na Califórnia; o Carnaval brasileiro e a loucura.
Este ano, já lançou um livro e uma exposição. O livro, História da fotografia autoral e a pintura moderna, é resultado de uma pesquisa de cerca de dez anos. A exposição é mais uma etapa do projeto Machina Mundi, de fotos aéreas feitas em diversos países.
Na entrevista a seguir, Edinger fala sobre as origens do novo livro, as diferenças de formação e perfil dos fotógrafos brasileiros e americanos (Edinger morou 20 anos nos EUA), os projetos que têm em andamento, seu processo criativo e sua visão sobre o futuro da fotografia, em um momento em que a popularização dos telefones celulares torna a prática acessível a um número inédito e crescente de pessoas no mundo.
O que o levou a escrever "História da fotografia autoral e a pintura moderna"? Que papel espera que a obra tenha para os fotógrafos e a fotografia brasileira?
Tenho dado cursos de fotografia há 40 anos. Quando voltei para o Brasil, depois de 20 anos fora (nos Estados Unidos), notei que temos muito talento, mas pouca cultura fotográfica. Sem cultura é impossível ser um bom fotógrafo autoral. Aí comecei a pesquisar de onde vinha o meu conhecimento. Uma coisa foi puxando a outra e quando percebi tinha material suficiente para um livro. Espero que este livro sirva de impulso para os jovens artistas brasileiros. O livro não tem nenhuma pretensão. O que temos que saber é muito, e este livro é só um balde do oceano. Mas é um bom começo, espero, para fotógrafos e para o público em geral perceber (quem ainda não notou) a imensa dimensão de nossa arte, em todas as direções.
Como avalia a formação dos fotógrafos brasileiros em história da arte? E de que forma isso impacta a qualidade da fotografia brasileira?
Tenho visto que quando menciono alguns nomes nos workshops ninguém conhece. Daí concluí que nossa cultura é deficiente. Como é deficiente nossa educação. Mas temos uma criatividade absurda, o que é muito bom. Com um pouco de educação, iremos a lugares pouco explorados. É só reparar a nossa riqueza musical. Rítmos e estilos variados — esta é a nossa natureza, somos uma mistura de raças que vai dar muito certo, principalmente no que diz respeito à arte, à economia criativa. Só é preciso um pouco de investimento nisso.
Você viveu duas décadas nos Estados Unidos. De modo geral, quais as diferenças fundamentais (de formação e estilo) entre os fotógrafos de lá e daqui?
A América viveu um boom econômico absurdo no pós guerra. Investiram pesado na educação, têm possivelmente as melhores universidades do planeta, sempre acreditaram na importância da educação. A coisa funciona como uma bola de neve. Bons alunos viram bons professores que pedem por grandes museus que acabam sendo apoiados pela sociedade e tudo reverte para uma melhor educação. Mas nós temos um poder criativo incomparável. Se nos derem as mínimas condições vamos transformar nosso país em uma potência. Já estamos a caminho. Vejo isso como um movimento irreversível.
Além de lançar o livro, este ano você já inaugurou a exposição Machina Mundi NYC. Quais os próximos projetos em vista e ou já em andamento?
A vantagem de se fazer as coisas no Brasil é que temos sempre que ter cinco ou seis projetos em andamento ao mesmo tempo para poder, enfim, viabilizar um deles. Estou fazendo um livro com fotos aéreas, Machina Mundi 2, um livro de histórias dos meus projetos (“Coisas que eu vi”). Ando pesquisando a criação de uma universidade de arte e tecnologia, quero fazer um livro sobre Jerusalém, outro sobre a China. Quem fica parado é poste.
Nos últimos anos, com as câmeras digitais, a fotografia se popularizou. Hoje, todo mundo se acha um pouco fotógrafo. É possível comprar fotos em grandes bancos de imagens a por centavos. Por outro lado, o preço dos equipamentos de qualidade ainda é muito alto. Qual a sua visão sobre o futuro da fotografia? Haverá espaço para que tipo de profissional?
Sempre haverá espaço para os profissionais — de moda, publicidade, jornalismo, gastronomia, arquitetura e casamento. Mas a fotografia autoral, que é a que me interessa, é a que mais tem evoluído. As redes sociais são de extrema valia. Poder publicar o que fazemos ajuda-nos a avaliar nosso trabalho, a corrigir os erros, a aprofundar a pesquisa. A fotografia se transformou na pintura do século 21. As obras sendo produzidas, e também os altíssimos preços, na casa dos milhões de dólares, de algumas delas, têm demonstrado isso.
Hoje, quase todo mundo fotografa com celular. As câmeras dos smartphones são cada vez melhores. Mesmo fotógrafos profissionais, cada vez mais, utilizam o celular, até pela praticidade. Mas praticamente todos os aparelhos tem um mesmo tipo de lente, as 28mm. Essa homogeneização impacta de alguma forma a estética fotográfica do nosso tempo? Se sim, de que forma? Há paralelos como outros períodos da história, como quando surgiram as câmeras 35mm, por exemplo?
Vivemos uma época sem precedentes na história. Principalmente na história da fotografia. Os smartphones têm revolucionado nosso olhar. A câmera agora é onipresente. Todo mundo está sendo alfabetizado, por assim dizer, em imagens fotográficas. É um revolução cultural comparável (mas muito superior) ao do aparecimento da escrita — as épocas são absolutamente diferentes. Não acredito em homogeneização da imagem, pelo menos nas imagens que importam. O photoshop e os aplicativos abrem absurdas possibilidades. O que fotografamos hoje é só uma linha — a pipa está lá em cima…
Como é hoje seu processo de criação? Como define os temas que vai fotografar?
Eu acredito que a fotografia é uma força da Natureza e comigo tem sido sempre assim. As situações vão aparecendo, a fotografia vai puxando a gente. Este trabalho com imagens aéreas, por exemplo, aconteceu por acaso porque me pediram uma foto do Maracanã. Acabei fotografando o Rio e assim começou.
Que novos fotógrafos ou correntes fotográficas hoje chamam a sua atenção no Brasil e no mundo?
No Brasil temos uma lista gigante de talentos antigos e novos e não vou citar nomes para não esquecer de ninguém. Mas em meu livro você tem os fotógrafos que pra mim são relevantes hoje em dia. Quanto às correntes fotográficas, são muitas, em todas as direções, desde auto-retratos incríveis, até stills de cinema, até construções surreais. A fotografia cresce horizontalmente e, a cada dia, aparecem talentos e obras novas. É lindo de se ver.
Como avalia a fotografia brasileira hoje? Por quê?
Nossa fotografia está entre as cinco mais importantes do mundo e com um pouco de ajuda vai pro topo. Somos uma jovem nação com um talento atávico extraordinário. Vivemos um momento fantástico, ainda mais diante de todas as dificuldades que enfrentamos. Ou talvez exatamente por isso.
Que equipamentos tem usado atualmente?
Uso uma Canon 5D Mark IV e um drone Mavic Pro 2 com câmera Hasselblad.
Cores e caos - entrevista com Gustavo Minas
O fotógrafo e jornalista Gustavo Minas é um nome popular na fotografia de rua brasileira atual. Ao longo dos últimos doze anos, construiu uma obra que se destaca pelas cores e sombras fortes, pela temática urbana e por composições muitas vezes aparentemente caóticas. Com ela, atraiu mais de 13 mil seguidores no Flickr e quase 50 mil no Instagram.
Venceu também alguns concursos fotográficos que lhe deram projeção: o Life Framer: Street Life; o POY Latam 2017, na categoria O futuro das cidades; e o Prix Photo Web Aliança Francesa 2017, com o ensaio O parto. Foi finalista de outros, como o Conrado Wessel 2016 e o Prêmio Gávea de Fotografia 2016, e destacou-se no último Sony World Photography. Exposições, conta três individuais e uma dúzia de mostras coletivas, no Brasil e no exterior, algumas delas como membro de coletivos que integrou, como o Flanares e o SelvaSP.
Agora, está lançando o primeiro livro, direto lá fora, pela Edition Lammerhuber. Chamada Maximum Shadow Minimal Light (Máxima sombra mínima luz), a obra nasceu do contato com um editor austríaco que viu o ensaio vencedor do Pictures of the Year Latam, de Minas, em uma newsletter sobre fotografia. Em 2017, o brasileiro foi para a Áustria editar cerca de 800 fotos, feitas desde 2010, e colocar o livro de pé. A versão final, ficou com 95 imagens, é uma espécie de retrospectiva do trabalho de Minas.
O livro é um dos temas da entrevista a seguir. Nela, Minas fala ainda sobre seu início na fotografia, as principais influências, o papel do fotógrafo Carlos Moreira em sua formação, seu processo de trabalho e a relação com as pessoas retratadas na fotografia de rua.
Como e quando você começou a se interessar por fotografia? O que mais te atraia?
Sempre tive um certo interesse, desde criança. Meu pai tinha uma dessas coleções meio enciclopédicas da Abril chamada "Nações do Mundo", e eu gostava de folhear e ver as fotos. No colegial, comprei uma câmera compacta e fotografava os churrascos da turma. Daí fui fazer jornalismo e meu pai me deu uma Yashica FX-D com uma 28mm que ele tinha parada em casa. Então, eu acabava fotografando a maioria das pautas do jornal laboratório. Havia um interesse pela fotografia, mas não sabia o que queria fotografar. Em 2007, comecei a trabalhar no jornal Agora São Paulo, 12 horas por dia, finais de semana, e estava precisando fazer outra coisa da vida para desbaratinar. Resolvi fazer um curso de fotografia e descobri o Carlos Moreira. Me inscrevi, e aí as coisas começaram a mudar. No primeiro semestre ele mostrou os mestres em PB: Bresson, Kertész, Robert Frank, Lee Friedlander, etc. Quando começamos o segundo semestre, fui descobrindo os caras da cor. Principalmente Harry Gruyaert, Alex Webb, Gueorgui Pinkhassov, Saul Leiter, que me tocaram mais, pelo jeito que lidavam com a luz. No caso de boa parte do trabalho do Webb e Gruyaert, a luz era muito parecida com a nossa. A partir daí comecei a fotografar quase diariamente. Como trabalhava à tarde, a única hora possível para encontrar essa luz "boa" era no começo da manhã. Então, comecei a sair de casa com o sol nascendo e a percorrer São Paulo, que era uma cidade ainda desconhecida para mim. Tinha uma Nikon D80 na época, e usava uma 24mm (que se tornava 36mm). Mas o curso do Carlos foi muito além de noções de composição e linguagem. Me ensinou muito sobre postura em relação à fotografia, sobre a fotografia como forma de se relacionar com o mundo, e me ensinou a não esperar nada da fotografia além da satisfação pessoal.
Desde que comecei a acompanhar o teu trabalho, pelo Flickr, lembro de ter ficado impressionado com o volume de imagens que você publicava diariamente. Você fotografa todo dia? Se sim, quantas horas? Como é a sua rotina de produção?
Sim, idealmente. Se tem sol, saio de manhã, quando o sol nasce, e ando umas três horas pela cidade. À tarde, aproveito o intervalo no meu trabalho (como jornalista) e fotografo mais uma hora quando o sol está se pondo.
Muitas das tuas imagens tem cores fortes, saturadas, e contrastes marcados entre claro e escuro, com sombras duras. Outras, têm reflexos. Geralmente, a composição é complexa. Às vezes, me lembram Alex Webb, outras, Gueorgui Pinkhassov. Quem são as suas referências e inspirações hoje?
Webb e Gruyaert foram referências muito fortes no início. Com o tempo, acho que fui incorporando outras, como o Pinkhassov e o Ernst Haas também. Além de, claro, tudo que eu li, vi e ouvi na vida, de fotógrafos que conheci no Flickr e no Instagram. Esse processo nunca termina. Acho que na minha série de Cássia tem muita coisa do Win Wenders, por exemplo. Mês passado fui fazer um curso com a Rosely Nakagawa e mostrei este esboço de trabalho sobre Brasília: www.gustavominas.com/Brasilia. Foi muito engraçado, porque no final da leitura ela disse que as fotos a lembravam um escritor japonês, o Haruki Murakami, e por acaso é o cara que eu mais tenho lido nos últimos anos.
Você já foi parte de coletivos, como o Flanares e o SelvaSP. Que papel ele teve na tua formação?
A fotografia de rua é uma prática muito solitária, então é bom sentir que não estamos sozinhos nessa. Estar em contato bem próximo com outros fotógrafos, de outra geração (eu era uns dez anos mais velho que a média da galera), como rolou na época do SelvaSP, abriu minha cabeça demais e me expôs a mais jeitos de olhar a rua. Me fez me afastar um pouco do formalismo mais clássico das minhas influências. Acho que rejuvenesceu um pouco minha fotografia. E a minha vida, na época, também.
Está trabalhando atualmente em algum projeto específico e ainda inédito? Pode contar algo sobre ele?
Não exatamente. Sempre luto pra fugir da Rodoviária de Brasília, que já fotografei bastante, mas acabo voltando a ela porque o fluxo de pessoas e a luz de lá me atraem muito. Às vezes consigo escapar. Aos poucos vou colecionando umas imagens de Brasília, além da Rodoviária, e tentando montar uma série sobre a cidade, sempre buscando imagens que fujam de alguma forma da concretude da realidade, que tenham algum nível de ficção, apesar de serem acontecimentos "reais".
Você vive de fotografia? Se sim, de que tipo? De arte? Ou faz trabalhos para terceiros também?
Que nada. Trabalho como jornalista numa empresa pública de comunicação para pagar as contas. Mas faço frilas de vez em quando. Tenho dado oficinas de fotografia de rua, vendo umas fotos de vez quando. Por um lado, é ruim porque me deixa preso aos mesmos lugares, e Brasília é uma cidade bem limitante para fotografia de rua. Por outro, me deixa livre pra fotografar só pra mim 99,9% do tempo.
Como escolhe os temas ou lugares onde vai fotografar?
Não tem uma escolha deliberada. Os temas e lugares geralmente surgem a partir de caminhadas. A luz do lugar e o fluxo de pessoas geralmente me fazem querer fotografar mais algum lugar. A criação dos projetos também surge assim. Vou fotografando o mesmo lugar despretensiosamente, e depois de um tempo, às vezes rola olhar para trás e ver que tem uma sequência que faz sentido no conjunto.
Você edita suas fotos no calor do momento, logo depois de fotografar, ou as deixa descansar?
Geralmente eu as trato no mesmo dia, ou nos dias seguintes. Daí deixo elas esquecidas por cinco ou seis meses antes de publicar, para tentar ter um olhar mais desapegado. De vez em quando preciso voltar aos arquivos ainda não tratados e descubro que tinha coisa ali que eu não tinha visto antes.
Como é o teu processo de pós-produção?
Bem básico. Num primeiro momento, bato o olho rapidamente nas fotos e vou dando quatro estrelas pras que eu quero rever. Dou uma segunda olhada e escolho as que acho que vale a pena tratar. Começo com um preset e vou fazendo ajustes na exposição, recupero sombras e luzes altas, e também ajusto as cores individualmente, dependendo da luz e da temperatura de cor. E faço alguns ajustes pontuais de exposição com os pincéis também.
Você já disse em uma entrevista que uma das tuas grandes inspirações foi o Carlos Moreira. É uma escola para muita gente. O que você, em particular, aprendeu com ele? De que forma ele te ajudou a transformar a tua fotografia? Quando você fez o curso com ele?
Fiz em 2009. Como disse na primeira questão, o curso foi muito além de noções de composição, cor, luz, além da imersão na história da fotografia. Para mim, além da obra maravilhosa, o Carlos é muito inspirador pelo jeito que ele encara a fotografia: a despretensão, a consciência do nosso lugar minúsculo na história da fotografia, a ideia de que a prática deve estar muito mais ligada à satisfação pessoal, à descoberta do mundo e de si mesmo, e que os resultados fotográficos são apenas consequência do que a gente é, de como a gente vê. E uma coisa que ele sempre falava ficou marcada em mim: fotografia é ficção. Isso me deu a consciência de que eu não precisava depender de fatos interessantes para fazer fotos interessantes. Pelo contrário: o banal deveria ser a matéria-prima a ser trabalhada e transformada através do olhar, da luz, do enquadramento.
A fotografia passou por um processo de democratização, nos últimos anos. Hoje, muita gente tem acesso à boas câmaras. O número de fotos a que somos expostos diariamente é imenso e crescente. Todo mundo se acha um pouco fotógrafo. Li em uma entrevista sua uma comparação interessante. A de que muita gente sabe escrever, mas poucos são escritores. O que diferencia um fotógrafo das demais pessoas que fotografam?
Ouvi essa comparação pela primeira vez com a professora Simonetta Persichetti. Mas não acredito em dom, "olho bom" ou inspiração. No fundo, o que diferencia o fotógrafo de quem apenas fotografa é a vontade e a prática aliada ao estudo dessa linguagem. Não acho que fotógrafos tenham um dom especial, apenas são pessoas que se dedicam mais à fotografia, seja por prazer, dinheiro, vaidade, etc.
Em muitas das suas fotos, fica a impressão de que as pessoas fotografadas foram pegas de surpresa. Algumas, inclusive, parecem não gostar muito. Esse é um dos grandes receios de quem começa a fotografar na rua. Você já arrumou confusão por causa disso? Tem alguma estratégia para evitar problemas?
Algumas pequenas. Mas nunca apanhei. Então, acho que estou no lucro. A estratégia é tentar intuir e respeitar o limite dos outros, ter empatia. Mesmo que eu não converse com as pessoas antes de fotografá-las, quase sempre rola um pouco de comunicação não verbal, ainda que muito sutil. Muitas pessoas não se importam. Outras até gostam de ser notadas. Quando alguém reclama, tento explicar o que estou fazendo, digo que estou estudando fotografia e fotografando a cidade. Quando pedem, apago a foto. É importante ter a consciência de que não se está fazendo mal a ninguém, e passar essa tranquilidade às pessoas de alguma maneira, seja sorrindo ou demonstrando naturalidade no ato.
A fotografia, para você, deve ter papel político? Se sim, qual?
Não acho que ela deva ter, mas acho que ela pode ter. Mas entendo esse papel político além do simplesmente fotografar tragédias, protestos e questões sociais. Acho que há política na fotografia em um nível mais pessoal, em dedicar um tempo a observar as cidade, a vida dos outros, a tentar entender e fazer parte do seu entorno. E acho que há política em tentar extrair beleza do banal e do cotidiano, em passar isso adiante por meio de imagens. Fazer as pessoas verem, tirá-las dos seus mundos, também pode ser um ato político.
Que equipamentos você usa para fotografar? Por que os escolheu?
Desde 2014, tenho usado câmeras mirrorless. Comecei com Fuji, fui pra Sony e voltei pra Fuji. Elas são mais lentas, mas gosto das cores do sensor da Fuji e do fato de serem bem menores e mais leves pra andar na rua.
Qual o seu projeto preferido, e por quê?
Pô, não tem um preferido. Mas eu acho que o Rodoviária é o mais bem resolvido. Acho que o fato de eu fotografar o mesmo lugar quase todos os dias, por três, quatro anos, me fez desenvolver como fotógrafo. Comecei fazendo fotos bem frontais e descritivas, e com o passar dos meses fui "forçado" a buscar novos ângulos, os reflexos, novos cantos, para tentar não ficar estagnado e preso naquele espaço físico demarcado.
Você está lançando agora o seu primeiro livro. Como surgiu o projeto?
Surgiu justamente com o Rodoviária. O ensaio foi vencedor na categoria "O Futuro das Cidades" no concurso Pictures of the Year Latam, em 2017, e circulou um uma newsletter sobre fotografia. Essa newsletter chegou a um editor austríaco que gostou do trabalho, foi atrás de outras coisas minhas e entrou em contato propondo um livro. Em 2017, fui para a Áustria e trabalhamos na edição a partir de umas 800 fotos que tinha feito desde 2010. Fizemos algumas poucas mudanças desde então. A versão final tem 95 fotos.
Qual o foco do projeto? Sobre o que trata?
Desde o início, a ideia era fazer uma "retrospectiva", um apanhado geral do que eu tinha produzido até então. Não tem uma linha narrativa, nem é organizado por lugares ou ensaios. É um livro de fotos soltas.
Quem está bancando?
A editora, 100%.
Qual a sua expectativa com ele?
Os livros sempre foram meu jeito preferido de ver fotos, então só o fato de ele existir pra mim já é uma realização em si. Mas, claro, também estou muito satisfeito de estar na prateleira de outras pessoas, de conseguir me comunicar desta forma.
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