Dubes Sônego Dubes Sônego

Exposição sobre a Rússia

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As ruas tem algo que não se costuma encontrar nos livros e no noticiário. Os cheiros, a temperatura, gostos, a forma como se é tratado. Uma certa atmosfera do dia a dia. É o acúmulo de sensações que determina a impressão que se tem de um lugar.

De 05 de setembro a 05 de outubro, vou expor na Galeria Tripé, na Casa Tri, em São Paulo, um ensaio fotográfico formado por doze imagens que apresentam a minha visão sobre alguns traços do caráter russo, a partir do que vi em duas de suas principais cidades, Moscou e São Petersburgo.

Se você gosta de geopolítica, de viagens, ou tem curiosidade sobre a cultura russa, está é uma oportunidade de observar aspectos do cotidiano de um dos países mais relevantes no cenário internacional, mesmo após o fim da Guerra Fria.

E além de visitar a exposição, você pode colaborar com a impressão das fotos e, depois, ter uma cópia ou um original da exposição em casa. Segue o link para a campanha de financiamento coletivo (crowdfunding) que estou lançando hoje. Toda a ajuda com divulgação é muito bem vinda.

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Arte na fotografia - entrevista com Claudio Edinger

Nascido no Rio de Janeiro, em 1952, Claudio Edinger é dono de uma estética difícil de confundir. Suas imagens, já há muitos anos, trazem poucos elementos em foco. O restante permanece sem nitidez, como em tilt-shift. Muitas das imagens feitas assim são retratos, paisagens urbanas ou fotos aéreas de cidades como o Rio de Janeiro, São Paulo, Paris e Nova York, ou de regiões como a Toscana. Mudam a perspectiva de quem vê, apresentam um mundo em que grandes prédios, muitas vezes, parecem miniaturas.  

Em sua longa e prolífica trajetória na fotografia, Edinger publicou fotos em mais de 56 veículos, no Brasil e no exterior, entre os quais Business Week, Conde Nast’s Traveler, Marie Claire, Elle, National Geographic, New York Times Magazine, Paris Match, Valor, Veja e The Washington Post. Prêmios e bolsas, foram ao menos 14. Exposições, foram mais de 80, desde 1975. Livros publicados, são quase 20, entre os quais os dedicados ao lendário Hotel Chelsea; a praia de Venice, na Califórnia; o Carnaval brasileiro e a loucura.  

Este ano, já lançou um livro e uma exposição. O livro, História da fotografia autoral e a pintura moderna, é resultado de uma pesquisa de cerca de dez anos. A exposição é mais uma etapa do projeto Machina Mundi, de fotos aéreas feitas em diversos países.

Na entrevista a seguir, Edinger fala sobre as origens do novo livro, as diferenças de  formação e perfil dos fotógrafos brasileiros e americanos (Edinger morou 20 anos nos EUA), os projetos que têm em andamento, seu processo criativo e sua visão sobre o futuro da fotografia, em um momento em que a popularização dos telefones celulares torna a prática acessível a um número inédito e crescente de pessoas no mundo.

O que o levou a escrever "História da fotografia autoral e a pintura moderna"? Que papel espera que a obra tenha para os fotógrafos e a fotografia brasileira?

Tenho dado cursos de fotografia há 40 anos. Quando voltei para o Brasil, depois de 20 anos fora (nos Estados Unidos), notei que temos muito talento, mas pouca cultura fotográfica. Sem cultura é impossível ser um bom fotógrafo autoral. Aí comecei a pesquisar de onde vinha o meu conhecimento. Uma coisa foi puxando a outra e quando percebi tinha material suficiente para um livro. Espero que este livro sirva de impulso para os jovens artistas brasileiros. O livro não tem nenhuma pretensão. O que temos que saber é muito, e este livro é só um balde do oceano. Mas é um bom começo, espero, para fotógrafos e para o público em geral perceber (quem ainda não notou) a imensa dimensão de nossa arte, em todas as direções.

Como avalia a formação dos fotógrafos brasileiros em história da arte? E de que forma isso impacta a qualidade da fotografia brasileira?

Tenho visto que quando menciono alguns nomes nos workshops ninguém conhece. Daí concluí que nossa cultura é deficiente. Como é deficiente nossa educação. Mas temos uma criatividade absurda, o que é muito bom. Com um pouco de educação, iremos a lugares pouco explorados. É só reparar a nossa riqueza musical. Rítmos e estilos variados — esta é a nossa natureza, somos uma mistura de raças que vai dar muito certo, principalmente no que diz respeito à arte, à economia criativa. Só é preciso um pouco de investimento nisso.

Você viveu duas décadas nos Estados Unidos. De modo geral, quais as diferenças fundamentais (de formação e estilo) entre os fotógrafos de lá e daqui?

A América viveu um boom econômico absurdo no pós guerra. Investiram pesado na educação, têm possivelmente as melhores universidades do planeta, sempre acreditaram na importância da educação. A coisa funciona como uma bola de neve. Bons alunos viram bons professores que pedem por grandes museus que acabam sendo apoiados pela sociedade e tudo reverte para uma melhor educação. Mas nós temos um poder criativo incomparável. Se nos derem as mínimas condições vamos transformar nosso país em uma potência. Já estamos a caminho. Vejo isso como um movimento irreversível. 

Além de lançar o livro, este ano você já inaugurou a exposição Machina Mundi NYC. Quais os próximos projetos em vista e ou já em andamento?

A vantagem de se fazer as coisas no Brasil é que temos sempre que ter cinco ou seis projetos em andamento ao mesmo tempo para poder, enfim, viabilizar um deles. Estou fazendo um livro com fotos aéreas, Machina Mundi 2, um livro de histórias dos meus projetos (“Coisas que eu vi”). Ando pesquisando a criação de uma universidade de arte e tecnologia, quero fazer um livro sobre Jerusalém, outro sobre a China. Quem fica parado é poste.

Nos últimos anos, com as câmeras digitais, a fotografia se popularizou. Hoje, todo mundo se acha um pouco fotógrafo. É possível comprar fotos em grandes bancos de imagens a por centavos. Por outro lado, o preço dos equipamentos de qualidade ainda é muito alto. Qual a sua visão sobre o futuro da fotografia? Haverá espaço para que tipo de profissional?

Sempre haverá espaço para os profissionais — de moda, publicidade, jornalismo, gastronomia, arquitetura e casamento. Mas a fotografia autoral, que é a que me interessa, é a que mais tem evoluído. As redes sociais são de extrema valia. Poder publicar o que fazemos ajuda-nos a  avaliar nosso trabalho, a corrigir os erros, a aprofundar a pesquisa. A fotografia se transformou na pintura do século 21. As obras sendo produzidas, e também os altíssimos preços, na casa dos milhões de dólares, de algumas delas, têm demonstrado isso. 

Hoje, quase todo mundo fotografa com celular. As câmeras dos smartphones são cada vez melhores. Mesmo fotógrafos profissionais, cada vez mais, utilizam o celular, até pela praticidade. Mas praticamente todos os aparelhos tem um mesmo tipo de lente, as 28mm. Essa homogeneização impacta de alguma forma a estética fotográfica do nosso tempo? Se sim, de que forma? Há paralelos como outros períodos da história, como quando surgiram as câmeras 35mm, por exemplo?

Vivemos uma época sem precedentes na história. Principalmente na história da fotografia. Os smartphones têm revolucionado nosso olhar. A câmera agora é onipresente. Todo mundo está sendo alfabetizado, por assim dizer, em imagens fotográficas. É um revolução cultural comparável (mas muito superior) ao do aparecimento da escrita — as épocas são absolutamente diferentes. Não acredito em homogeneização da imagem, pelo menos nas imagens que importam. O photoshop e os aplicativos abrem absurdas possibilidades. O que fotografamos hoje é só uma linha — a pipa está lá em cima…

Como é hoje seu processo de criação? Como define os temas que vai fotografar?

Eu acredito que a fotografia é uma força da Natureza e comigo tem sido sempre assim. As situações vão aparecendo, a fotografia vai puxando a gente. Este trabalho com imagens aéreas, por exemplo, aconteceu por acaso porque me pediram uma foto do Maracanã. Acabei fotografando o Rio e assim começou. 

Que novos fotógrafos ou correntes fotográficas hoje chamam a sua atenção no Brasil e no mundo?

No Brasil temos uma lista gigante de talentos antigos e novos e não vou citar nomes para não esquecer de ninguém. Mas em meu livro você tem os fotógrafos que pra mim são relevantes hoje em dia. Quanto às correntes fotográficas, são muitas, em todas as direções, desde auto-retratos incríveis, até stills de cinema, até construções surreais. A fotografia cresce horizontalmente e, a cada dia, aparecem talentos e obras novas. É lindo de se ver.

Como avalia a fotografia brasileira hoje? Por quê?

Nossa fotografia está entre as cinco mais importantes do mundo e com um pouco de ajuda vai pro topo. Somos uma jovem nação com um talento atávico extraordinário. Vivemos um momento fantástico, ainda mais diante de todas as dificuldades que enfrentamos. Ou talvez exatamente por isso.

Que equipamentos tem usado atualmente?

Uso uma Canon 5D Mark IV e um drone Mavic Pro 2 com câmera Hasselblad.

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